Há já alguns meses que existia uma enorme vontade de calcorrear esta serra: a Serra do Barroso! Esta é uma daquelas serras votadas ao esquecimento pela maioria do pessoal que gosta de caminhar em montanha. São muito raras as excepções e basta perder alguns minutos a pesquisar na internet para perceber-nos que é muito pouca e quase inexistente informação acerca de caminhadas por aqueles lados, e o mesmo se pode dizer em relação á existência de trilhos ou percursos sinalizados.
Com o objectivo de concretizar essa vontade de lá 'pôr as botas', fomos estão até á aldeia serrana de Alturas do Barroso. Havia um alerta meteorológico de muito frio e quando lá chegamos nem queríamos acreditar: embora o sol teima-se em aparecer estava um frio de rachar acompanhado por um vento que por vezes era forte e 'cortava'. Havia gelo por todo o lado!
Alturas é uma bela aldeia, num magnífico enquadramento e desde sempre defendida por dois guardiões de respeito: o Couto dos Corvos e o Couto do Sudro, que em conjunto formam os "Cornos do Barroso"!
Rapidamente iniciamos a caminhada, com aquele frio não se conseguia estar parado, e deixando a aldeia partimos na direcção sudoeste através de um caminho rural que nos levaria a atravessar a Corga da Moura e onde junto da linha de água existe um velho moinho abandonado. Subimos então até atingir a Plaina da Piada. Neste planalto existe um belo bosque com várias espécies arbóreas e claro, a velha casa do guarda que como muitas outras em todo o nosso país se encontra em elevado estado de degradação. Que desperdício! Por estes lados também se podem observar várias espécies de aves, em especial as perdizes.
Depois de atravessar a Corga da Fanteira iniciamos a subida que nos iria levar a um dos objectivos do dia: o Alto da Armada, ponto mais elevado da Serra do Barroso! Por esta altura o sol já escasseava, o frio fazia-se sentir com mais intensidade e quando estávamos prestes a chegar ao topo começou a nevar, se bem que por pouco tempo e com fraca intensidade.
Quando chegamos á Armada, com os seus 1.279 metros de altitude, as minhas previsões confirmaram-se. A panorâmica a toda a nossa volta era fenomenal! Desde a Cabreira ao Alvão, do Gerês ao Larouco, o monte Farinha e a Sr.a da Graça no seu cimo, o Marão, a serra do Leiranco, a albufeira dos Pisões lá ao fundo, enfim, uma delicia!
Se até aqui se tinha caminhado na vertente sul da serra, a partir daqui passamos a caminhar na vertente norte. Neste percurso, cem por cento idealizado por nós, agradava-me imenso o facto de ele se desenrolar nas duas encostas da serra o que permitiu de uma só assentada calcorrear grande parte da mesma.
O caminho levou-nos a passar junto da aldeia de Telhado onde apanhamos um magnífico caminho rural que nos levou a passar por entre bucólicos campos de pastoreio onde belos exemplares bovinos pastavam. Foi aí onde encontramos o Sr. João Manuel, pastor, que por ali guardava a sua manada e que nos proporcionou uns agradáveis minutos de conversa, onde nos falou de como é a vida na serra e o quanto dura ela pode ser. Gentes valentes estas! Gentes que apesar das adversidades teimam em permanecer onde ninguém mais quer estar! Tiro-lhes o chapéu e faço-lhes uma vénia!
Depois da pausa seguimos o caminho que nos levou a contornar o Couto do Castelo e a subir até "passar pelo meio dos Cornos do Barroso" onde férteis lameiros fazem as delícias dos animais que por lá pastoreiam.
Faltava agora a "cereja no topo do bolo", a subida a um dos guardiões ou "cornos" se preferirem. Optamos por subir ao Couto do Sudro, por ser o mais alto (1229 m.). A subida foi dura mas como sempre acontece, depois de lá chegar temos a recompensa. Lá do alto o enorme "lago" dos Pisões domina por completo a paisagem. Um enorme espelho de água. Lá ao longe o Larouco, embrenhado em neblina, desafiava-nos para novas aventuras!
Depois foi só descer e tomar o caminho até aldeia onde percorremos algumas ruas, sempre em busca de algo que nos surpreende-se ao virar da esquina por entre aqueles aglomerados de pedra.
Foi longa esta jornada, o frio aumentou a sua dureza mas ficará no rol das inesquecíveis. A Serra do Barroso é uma serra bastante humanizada, sim é verdade. O homem amanhou-a, e é aí que se encontra muito do seu encanto. Pena é que mais caminheiros não a queiram descobrir! Eu aconselho vivamente!
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